Muammar Gaddafi, discursando para a televisão estatal nesta quarta-feira
Trípoli - O ditador líbio Muammar Gaddafi acusou os países ocidentais de levarem a cabo um "complô colonialista" contra seu país e descartou negociar com o Conselho Nacional que os rebeldes constituíram em Benghazi, ao qual negou legitimidade e relacionou com a organização terrorista Al Qaeda.
Em entrevista gravada na noite de ontem em Trípoli e transmitida nesta quarta-feira pela rede de televisão francesa "LCI", Gaddafi denunciou que os países ocidentais "querem colonizar a Líbia novamente", citando em particular Estados Unidos, Reino Unido e França.
Ao ser questionado sobre a possibilidade de negociar com o Conselho Nacional, Gaddafi soltou uma gargalhada e respondeu que "não há um Conselho Nacional".
O líder líbio também assinalou que os ex-membros de seu governo que se somaram ao Conselho na verdade "foram retidos pela força" e "ameaçados de morte", de modo que sua única saída foi comprometer-se com os insurgentes.
"Não são livres, são prisioneiros", acrescentou Gaddafi antes de negar que combata seu próprio povo: "é uma mentira dos países colonialistas. É um complô colonialista".
Em outra entrevista, veiculada pela emissora estatal líbia, Gaddafi afirmou que o objetivo do complô é o controle do petróleo do país e acusou os rebeldes de "traição", voltando a afirmar que eles são apoiados pela rede terrorista Al Qaeda.
"Os países colonialistas tramam um complô para humilhar o povo líbio, reduzi-lo à escravidão e controlar o petróleo", disse Gaddafi, segundo o canal líbio, em um discurso na cidade de Zenten, 120 km ao sudoeste de Trípoli.
APÓS RUMORES, APARIÇÃO FRUSTRANTE
Na noite de terça, Gaddafi dirigiu-se ao hotel na capital, Trípoli, onde estão hospedados os jornalistas estrangeiros que cobrem a revolta no país contra seu regime. A imprensa internacional dizia que o mandatário poderia falar aos repórteres, mas ele deixou o local cerca de uma hora depois sem falar aos repórteres que esperavam por algum tipo de declaração. Segundo a rede de TV americana CNN, o mandatário concedeu uma entrevista apenas a um jornalista turco e, ao final, foi embora.
Muammar Kaddafi, chega a hotel em Trípoli onde jornalistas estão hospedados
Gaddafi chegou ao local pouco antes das 23h locais (19h em Brasília) e gerou tumulto entre os jornalistas que tentavam falar com ele, fotografá-lo ou filmá-lo.
No entanto, o ditador não pronunciou nenhuma palavra e seguiu para uma parte do hotel que não foi divulgada. Mas, usando uma túnica negra e um turbante de cor ocre, o coronel levantou os braços e cerrou os punhos em sinal de vitória.
A "visita" de Gaddafi ocorreu no mesmo dia em que a liderança rebelde --que luta contra forças leais ao ditador pelo controle do país há 21 dias-- disse que, se o ditador renunciar dentro de 72 horas, não irá tentar levá-lo à Justiça.
"Se ele deixar a Líbia imediatamente, durante 72 horas, e parar com o bombardeio, nós, como líbios, iremos recuar de persegui-lo por crimes", disse Mustafa Abdel Jalil, chefe do Conselho Nacional Líbio, à Al Jazeera.
Mais cedo, a emissora de TV americana CNN informou que Gaddafi estaria trabalhando em um acordo para deixar o governo após 41 anos e para isso quer que os rebeldes da oposição garantam passagem segura para fora do país e que nem ele, nem sua família, sejam processados.
Gaddafi teria proposto um encontro do Parlamento líbio para acordar os termos da transição e os passos para sua renúncia. Segundo a TV Al Jazeera, os termos do ditador incluem ainda uma boa quantia em dinheiro.
O ditador teria inclusive enviado o ex-premiê Jadallah Azzouz Talhi para se reunir com os rebeldes e trabalhar na versão final de um acordo, pelo qual ele entregaria o poder a um comitê formado pelo Congresso Geral do Povo.
Mas os rebeldes rejeitaram qualquer oferta de negociação com o líder líbio para que ele deixe e o poder, e o governo afirmou que tais informações são "absolutamente sem sentido".
A jornalistas, membros do conselho disseram que tais conversas não existiram. O porta-voz dos rebeldes, Abdel Hafez Ghoga, também negou relatos de que a oposição teria prometido não tentar levar Gaddafi a julgamento se ele renunciar em três dias.
Com Efe e France Presse
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