Rebeldes observam fumaça durante confrontos em Sidra, na Líbia (10/03)
Trípoli - O Comitê Internacional da Cruz Vermelha disse nesta quinta-feira que o conflito na Líbia escalou para uma guerra civil, com a população sendo submetida às piores conseqüências da violência. Falando em Genebra, na Suíça, o presidente da Cruz Vermelha, Jakob Kellenberger, disse que a agência está "preparada para o pior" e criticou o fato de vastas áreas do país permanecerem inacessíveis para as agências humanitárias.
"Meu entendimento é que agora temos um conflito armado não-internacional, ou seja, uma guerra civil", disse Kellenberger. "Sempre temos de estar preparados para o pior, e nesse caso específico isso quer dizer que temos de nos preparar para uma intensificação dos enfrentamentos."
As forças do coronel Muamar Kadafi continuaram nesta quinta-feira atacando áreas anteriormente tomadas pelos rebeldes. Novos ataques a bombas e mísseis foram realizados perto do complexo petroquímico de Ras Lanuf e, mais ao leste, a aviação líbia bombardeou Brega, que também está sob controle insurgente.
Segundo a TV árabe Al-Jazeera, as forças pró-Kadafi tomaram o controle de Ras Lanuf, localizada a cerca de 450 quilômetros a leste de Benghazi, forçando os opositores a fugir em direção a Brega. As forças de Kadafi enviaram dois tanques de guerra para combater os rebeldes no enclave petrolífero.
Os tanques se aproximaram da cidade e atiraram contra os postos rebeldes quando chegaram a alguns quilômetros de distância, disseram as testemunhas. As forças leais ao líder líbio também lançam ataques por mar e ar, castigando os arredores da cidade e posições situadas na localidade vizinha de Ben Jawad.
Um responsável da coalizão rebelde na cidade de Benghazi confirmou também que houve um ataque contra o povoado de Sidra, próximo a Ras Lanuf, onde existem instalações petrolíferas que foram atingidas nas últimas horas por fogo de artilharia.
Movimentação
A BBC disse que muitos feridos na frente de batalha perto de Ras Lanuf têm sido levados para a cidade. O chefe da missão da Cruz Vermelha em Benghazi, Simon Brookes, afirmou estar preocupado com a falta de acesso da organização ao oeste do país, onde grandes territórios permanecem sob controle do regime ou são palco de intensos combates.
"Não temos acesso ao oeste, e precisamos ter acesso. Estou falando de Zawiya, de Misrata, de Trípoli. Achamos que há um conflito armado aqui, e é por isso que a Cruz Vermelha precisa ter acesso a ambas as regiões", disse Brookes à BBC.
Em Genebra, Kellenberger disse acreditar que as populações no oeste da Líbia estão sendo ainda mais afetadas pelos enfrentamentos. Citando fontes confiáveis, o presidente da organização humanitária disse que o uso de aviões no conflito líbio elevou rapidamente o número de vítimas.
Em Misrata, pelo menos 40 pessoas deram entradas em hospitais com ferimentos graves, e outros 22 corpos foram deixados no local, afirmou o presidente da Cruz Vermelha. "Não sabemos quais são as necessidades de ajuda humanitária na área controlada por Trípoli. Estão dizendo (o governo) que tudo está sob controle, que todos os hospitais estão funcionando perfeitamente e não há necessidade de assistência humanitária externa", disse. "Estamos preocupados, porque gostaríamos de avaliar com os próprios olhos a situação."
Batalha diplomática
Mais cedo, a França expressou sua desaprovação com a repressão do regime aos civis e reconheceu a liderança rebelde da Líbia - o Conselho Nacional Líbio (CNL) - como governo legítimo do país. Foi o primeiro país a reconhecer o CNL, que reúne vários grupos de oposição ao regime de Kadafi.
O governo francês informou que enviará em breve um embaixador a Benghazi. A decisão foi anunciada em Paris pelo gabinete do presidente Nicolas Sarkozy, um dia depois de deputados do Parlamento Europeu terem exortado a União Europeia (UE) a reconhecer os rebeldes.
O regime de Kadafi, há quase 42 anos no poder, está sob pressão da comunidade. A Otan deve discutir ainda esta semana opções militares para lidar com o conflito líbio, incluindo a adoção de uma zona de exclusão aérea para conter os bombardeios aéreos de áreas rebeldes por forças leais a Kadafi.
Na quarta-feira, Kadafi disse que a população pegará em armas se for imposta a zona de exclusão aérea. "Se eles (os países ocidentais e a ONU) tomarem essa decisão, será útil para a Líbia, porque o povo líbio verá a verdade, que o que eles querem é assumir o controle da Líbia e roubar seu petróleo", disse. "Então o povo líbio pegará em armas contra eles", afirmou.
Em entrevista à TV turca TRT, Khadafi disse que países ocidentais querem impor a zona de exclusão aérea para "tomar o petróleo líbio". Kadafi alega que governos europeus e a rede Al-Qaeda estão incitando a juventude da Líbia a aderir à revolta contra seu governo.
*Com BBC, AFP e EFE
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