segunda-feira, 21 de março de 2011

Líbia/Guerra: Carta ao americano Presidente Barack Husseim Obama, de Kingamba Mwenho

Caríssimo Barack Husseim Obama,
aceite as minhas melhores saudações!

Enquanto escrevo estas linhas o sangue de pessoas inocentes escorre pelas artérias de Tripoli e outras cidades da Líbia. A intervenção militar que estais levando a cabo é ilegal, é colonialista e é injusta. De ti, Senhor Presidente Obama, ninguém esperava uma decisão do género: uma guerra oportunista pelo petróleo e outros recursos naturais e por espaços aonde instalar novas bases militares. Até mesmo a possibilidade de dividir a Líbia é suja quanto sanguinária considerando as consequências dessa acção militar e económica.

Quando fostes eleito, todos viram na tua eleição uma esperança real para o mundo, esperamos para América uma nova época de decisões políticas ponderadas, de bons exemplos em termos de respeito entre as nações, iniciativas de grande respiro que poderiam ate mudar o modo de fazer política em muitas partes do mundo.  Tu eras uma pequena esperança deste mundo, muitos viram em ti o “escolhido”, aquele que sempre se esperou para mudar as actuais sortes do mundo: a começar dos problemas crónicos dos Estados Unidos que infelizmente são espelho de muitas realidades globais.  Mas analisando o que fizestes até agora, se vêm mais desilusões que elementos de esperança. Nestas horas estás acabando de matar as nossas esperança,  estas  mutilando  as nossas aspirações estás queimando tudo aquilo que sempre afirmastes: a luta por um mundo melhor, um mundo aonde o direito e a dignidade dos povos é mais importantes do que os negócios das grandes lobbies internacionais.

Cada  hora que passa as acções do grupo de “oportunistas sob a tua liderança” está ceifando vidas e não salvando-as, está complicando a situação económica e político-militar do Norte África e não melhorando. Aquilo que se vê é uma grande vontade de ocupar a Líbia e repartir-se as suas riquezas porque são muitas as interrogações sem respostas. Eis algumas:

1) Como explicar a lentidão do processo diplomático - por parte das Nações Unidas e das várias potências ocidentais com interesses em Líbia - no momento em que Muammar Gaddafi se encontrava em dificuldades? Se a “Diplomacia da ONU” estivesse em favor do líbios teria aproveitado aquele momento para instaurar um processo de paz no qual Muammar Gaddafi acabava saindo da política e o país marcharia para uma nova era,  íntegro e com dignidades.

2) Como justificar a aceleração nunca vista das decisões das Nações Unidas em vista das acções militares em Lìbia? Todas as guerras são inúteis: vimos no Iraque e em muitos outros países. Se a intenção é tirar Muammar Gaddafi do poder a guerra não é a solução, nunca será, porque o post-Gaddafi será mais complicado acabando por levar mais vidas do que aquelas que lá se foram ate ao momento. Um elemento não menos importante: é absurdo que o presidente de um país diga ao Chefe de uma outra nação para deixar o poder. O que dizer então de George Bush Jr. quando após os potentes bombardeamentos e ocupação do Iraque viu que a guerra continuava, que as motivações da guerra eram falsas, que as suas acções e decisões aumentaram as mortes e não instauraram uma democracia... não se demitiu, mas é um sanguinário e o mundo pedia a sua testa.

3) Como explicar a elaboração da Resolução 1979 das Nações Unidas que institui uma “No fly zone” com termos vagos e chacal/colonizadores mesmo sabendo que nenhum dos beligerantes quer a presença militar Ocidental em solo líbio? Esta resolução foi feita com a maior abertura de interpretação e muitas armadilhas lexicais  que nos levam a crer que a invasão de terra também já fora preparada com antecedência. Nem a Liga Árabe, nem a União Africana, nenhuma outra organização aceitou uma opção do género, mas as forças ocidentais as prepararam e as estão a aplicar.

4) Como explicar a presença de uma centena de militares ingleses (Cfr. notícias da Ansa/BBC/The Times) em Líbia três semanas antes da aprovação da Resolução das NU sobre a “No fly zone”? A Coroa inglesa antecedeu tudo enviando mais de cem homens das suas brigadas especiais a fim de ajudar os rebeldes (pura violação do solo líbio e muitas convenções das Nações Unidas). Isto me leva crer que as potências ocidentais prepararam a guerra com antecedência tendo em conta todos os detalhes para eliminar Gaddafi e ate mesmo a divisão do país.

5) Como explicar o rápido reconhecimento, por parte das potências ocidentais em causa, do Grupo de rebeldes sem referências e com possíveis infiltrações terrorítiscas num cenário de política internacional no qual um legítimo Governo decide de resolver os seus problemas internos?

6) Como explicar os debates sobre a divisão das riquezas líbias que as televisões, rádios e jornais ocidentais estão levando a cabo? Hoje é mais claro que nunca que o controlo do petróleo líbio é a primeira intenção desta intervenção, esta é a primeira conclusão de todos os debates mediáticos. Diz-se que um elefante não se esconde atrás de um caniço... o mesmo sobre esta guerra.

São muitas as questões sem resposta. Não encontro explicações sobre a quantidade de meios militares acumulados entorno a Líbia, tudo é surreal, é triste porque si afirma mais uma vez o direito da força e não a força dos direitos humanos.

Senhor presidente, se a vossa intenção era marcar a história com um timbro de fogo benigno, o intervenção em Líbia constitui um passo falso, é uma das tuas piores decisões e te recordarás para sempre. Serás recordado como presidente cuja a BOA fama foi maior que as suas reais acções e sobretudo como um político tele-Guiado que em vez de levar a esperança em África, utilizou as Nações Unidas para permitir a infiltração dos poderes fortes do petróleo e do gás em Líbia. As guerra de ocupação são sanguinárias, são tristes, são perigosas para inteira comunidade internacional, são terríveis e restam na memória histórica dos ocupados.

Senhor Presidente, estás ainda em tempo, e tens todo o poder para pôr fim (TO STOP) a máquina infernal da guerra, e diga a aos teus amigos que o solo líbio pode tornar-se num outro Afghanistan, senão uma outra Somália. Não queremos um outro Estado fantasma em terras africanas (Cfr. Somália), não queremos outras ocupações em estilo colonizador (Cfr. Iraque). Todos os povos querem sistemas de governo democráticos, mas como sabemos que esta não se EXPORTA, quem quiser ajudar comece financiando as organizações sociais que se batem para o efeito. A formação, a formação antes de tudo é o caminho para a democracia, a violência provoca violência e não leva a lado nenhum.

Sobre guerra o General William Sherman disse uma vez  que somente aqueles que nunca deram um tiro, nem ouviram os gritos e os gemidos dos feridos, é que clamam por sangue, vingança e mais desolação. A guerra é o inferno. Esta aventura vai terminal mal para os pobres, para os civis e bem para as potências ocidentais já prontas para aumentar a produção do petróleo.

Cordialmente,

Kingamba Mwenho!

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