Ras Lanuf , 07 Março - Depois da intensa batalha do domingo, os combatentes rebeldes foram expulsos de Bin Jawad e ocupavam neste domingo, 7, posições numa faixa a 2 km de distância a leste da cidade. Aviões MiG, de fabricação russa, sobrevoavam o complexo petroquímico de Ras Lanuf, 45 km a leste, firmemente controlado pelos rebeldes, ocasionalmente disparando mísseis. Dois deles atingiram um carro e feriram o casal, três crianças e a avó que viajavam nele.
O carro acabava de passar por um posto de controle dos rebeldes na saída de Ras Lanuf. Muitas famílias deixaram ontem a cidade, um conjunto habitacional construído há 30 anos para os trabalhadores da petroquímica, hoje com 10 mil habitantes.
Os combatentes estavam ocupando algumas casas. Eles atribuem a vitória das forças do governo em Bin Jawad não só ao fato de usarem armamento pesado, mas também de terem ocupado as casas e usado seus moradores como escudos humanos. Não querem que o mesmo aconteça em Ras Lanuf.
À noite, os motoristas eram instruídos pelos combatentes a trafegar com os faróis apagados, por causa dos ataques aéreos. Baterias antiaéreas dos rebeldes e munição traçante eram disparadas intermitentemente, sob o ruído dos aviões.
Segundo uma fonte médica de Benghazi, a principal cidade controlada pelos rebeldes, 380 km a leste, 30 pessoas foram mortas e 169 feridas nas batalhas dos últimos três dias. Mas o número pode ser bem maior. Os soldados leais ao ditador Muamar Kadafi retiraram do campo de batalha não só seus mortos e feridos, mas também parte dos rebeldes no combate de domingo, disse ao Estado Salim Nabuz, que participou da luta por Bin Jawad.
O combatente afirmou que os membros das forças especiais, dispararam foguetes contra uma mesquita onde cerca de 20 rebeldes tinham se refugiado, destruindo o prédio e matando todos. "Muitas pessoas estão desaparecidas", acrescentou. Nabuz, dono de uma loja de pneus em Ajdabiya (200 km a leste), mostrou o furo provocado por um disparo de fuzil em seu carro, que feriu na perna direita seu amigo, o estudante Hassan Sarimi, de 26 anos. À pergunta sobre onde estava o Exército regular que afirma apoiar o levante, Nabuz e seus companheiros, todos voluntários civis, responderam: "Aqui não temos tanques nem Exército. Só temos Alá".
O pedreiro Abdul Monem, de 31 anos, que opera uma peça de artilharia, expressou sua impaciência com o Exército e com a liderança civil rebelde: "Eles só falam. Até hoje não conseguiram (com a comunidade internacional) a zona de exclusão aérea, para evitar esses ataques de Kadafi. Se não fizerem nada, vamos fazer uma nova revolução."
Front oeste. Segundo as agências de notícias, o governo parecia ter consolidado na segunda-feira o controle sobre parte de Zawiya, 50 km a oeste de Trípoli. Mas os confrontos continuam.
Um morador disse que as forças leais a Kadafi atacaram os rebeldes durante toda a manhã com tanques e peças de artilharia. Já os opositores controlam a maior parte de Misrata, a terceira cidade do país, 200 km a leste da capital. Mas falta medicamentos para tratar dos feridos.
Jadallah Azous al-Talhi, primeiro-ministro líbio nos anos 80 e originário do leste do país, fez ontem um apelo pela televisão aos anciãos de Benghazi, para que "deem uma chance a um diálogo nacional e parem o derramamento de sangue".
Um assessor do ex-ministro da Justiça e líder rebelde Mustafa Abdel Jalil respondeu: "Qualquer negociação deve ter como ponto de partida a renúncia de Kadafi. Não pode haver nenhum outro acordo".
Estadão/Agências
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