Fontes governamentais e partidárias afirmam que o presidente egípcio deverá anunciar hoje a sua renúncia ao cargo. Ministro da Informação garante o contrário. Militares reuniram-se sem Mubarak, que estará em Sharm el-Sheik.
Dentro de algumas horas, o Presidente egípcio Hosni Mubarak deverá dirigir-se à nação. Nesse momento, o chefe de Estado poderá anunciar a renúncia ao cargo, ou apenas abrir mais um capítulo da crise política do país.
Esta tarde, a liderança do exército egípcio estava reunida no Cairo sem Mubarak, facto entendido por vários observadores como sinal de que os militares têm neste momento a iniciativa no processo de transição, e de que o Presidente poderá de facto estar de saída. Nos últimos minutos, surgiram informações não confirmadas que indicam a partida de Mubarak para a estância balnear de Sharm el-Sheik, na costa egípcia no Mar Vermelho.
“Estaria surpreendido se ainda fosse Presidente amanhã”
De acordo com Hossan Badrawi, secretário-geral do Partido Nacional Democrata, Mubarak deverá mesmo anunciar a passagem do poder para o seu actual número dois, o vice-Presidente Omar Suleiman, antigo chefe da secreta egípcia que nos últimos dias adoptou um claro discurso de liderança.
«Estaria muito surpreendido se Mubarak ainda fosse Presidente amanhã», declarou Badrawi à BBC.
Também o primeiro-ministro egípcio, Ahmed Shafiq, declarou à BBC que o cenário da demissão de Mubarak estava em cima da mesa.
A decisão deverá ser anunciada «nas próximas horas». Caso Mubarak abandone o poder, há outro cenário para além da passagem de testemunho a Suleiman. O exército, que ainda hoje declarou que a segurança da população é prioritária neste momento, pode assumir o poder.
À medida que a tensão sobe nas altas esferas do regime egípcio, surgem indícios de divisão. O ministro da Informação afirmou esta mesma tarde que Mubarak não sai.
Contestação sobe de tom
Nas ruas do Cairo, as últimas informações foram recebidas com enorme entusiasmo. Esta tarde, entoavam-se slogans de unidade entre o povo e as forças armadas - mais um sinal de que o exército poderá de facto estar a mudar rapidamente de posição.
A praça Tahrir voltou a encher após dias de medo motivados pelos ataques de grupos leais a Mubarak. A libertação de Wael Ghonim, o activista online que convocou os primeiros protestos através da rede social Facebook, galvanizou os manifestantes. Ghonim, director de marketing da Google para o Médio Oriente, esteve detido 11 dias e concedeu segunda-feira uma entrevista ao principal canal privado do Egipto, onde chorou a morte de opositores do regime. O momento televisivo terá marcado um ponto de viragem nos protestos, quando estes perdiam força.
No resto do país, os protestos ganharam força nos últimos dias com a entrada em cena dos sindicatos. O canal do Suez, peça-chave da economia egípcia e ponto de passagem de grande parte do comércio mundial, regista interrupções no serviço. Seis mil funcionários estão em greve.
Também nos últimos dias, a contestação chegou ao Alto Egipto (sul do país), com registo de mortes e da destruição de edifícios governamentais em Assuão. Até ao momento, não tinham acontecido protestos significativos na região. GL com Sol
Sem comentários:
Enviar um comentário