sábado, 12 de fevereiro de 2011

Guiné Equatorial: Escritor Juan Laurel em greve de fome contra regime de Obiang

Juan Ávila Laurel, na foto que publicou no Facebook () O escritor da Guiné Equatorial Juan Tomás Laurel entrou em greve de fome contra a situação no seu país e escreveu uma carta aberta ao presidente do Parlamento espanhol, José Bono Martínez. Pediu-lhe que faça pressão para promover o fim da ditadura do general Teodoro Obiang.

A carta aberta foi disponibilizada na página do Facebook de Juan Tomás Ávila Laurel, a poucas horas de José Bono Martínez chegar a Malabo, capital da Guiné Equatorial, para uma visita oficial de uma delegação parlamentar espanhola. Nela é pedido ao presidente do Parlamento espanhol para que faça “pressão para que seja constituído na Guiné Equatorial um Governo de transição de que não faça parte ninguém que tenha ocupado cargos políticos ao longo dos últimos 32 anos”. Laurel adianta: “Já não podemos continuar a viver debaixo de uma ditadura que nos consome a alma”.

Teodoro Obiang chegou ao poder em 1979, assumiu no mês passado a presidência da União Africana e tem pretensões a integrar a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O seu regime tem sido marcado por violações de direitos humanos que desencadearam o protesto de Juan Tomás Laurel, um dos mais conhecidos escritores da Guiné Equatorial, autor de obras como “A carga” ou “Nada tem boa fama neste país”.

O texto é uma crítica à visita de José Bono Martínez, que causou polémica em Espanha, mas é sobretudo um apelo. “Senhor Bono, a única coisa que desejamos é que consiga que Obiang, o seu filho Teodorín, a primeira-dama Constância, os irmãos e primos generais e coronéis que sustentam este inqualificável poder, consigam um asilo num país seguro. Cremos que uma terça parte do dinheiro guardado no estrangeiro por apenas um deles dê para viverem até ao resto dos seus dias”.

Juan Tomás Laurel participa frequentemente em conferências em universidades norte-americanas sobre língua e literatura espanholas e é autor de um blogue na revista digital “FronteraD” intitulado “Malabo”, no qual aborda questões relacionadas com a vida na Guiné Equatorial. Na sua carta deixa um alerta ao presidente do Parlamento espanhol. “Não é justo deixar a minha vida nas suas mãos, mas tenho que reconhecer que o que acontecer com ela dependerá muito de si.”


Visita contestada

O apelo deste académico da Guiné Equatorial não teve qualquer comentário do Presidente do Parlamento espanhol, que se encontra em Malabo. Esta antiga colónia de Espanha é o terceiro país produtor de petróleo da África Subsariana – produz cerca de 600 mil barris por dia –, e segundo a agência EFE Bono Martínez já prometeu enviar a Obiang uma lista de empresas espanholas que estão dispostas a investir no país. Aliás, o principal objectivo da visita é facilitar a participação de Madrid na exploração de petróleo guineense, que em breve deverá atingir o milhão de barris diários.

Estava previsto um encontro com o deputado Plácido Micó, o único opositor que tem assento no Parlamento da Guiné Equatorial em representação do partido democrático Convergência para a Democracia Social, mas o encontro acabou por ser adiado porque Micó se encontra fora do país.

A visita foi contestada por diversos partidos em Espanha, mas a ministra dos Negócios Estrangeiros, Trinidad Jiménez, autorizou-a ao defender que “a diplomacia parlamentar faz parte do modo de nos relacionarmos”. No editorial do “El País” lia-se hoje que, com esta visita, Espanha cometeu “dois erros pelo preço de um”, porque “Jiménez não fez mais do que prolongar a estratégia do seu antecessor [Miguel Ángel Moratinos], que efectuou uma das visitas mais espectaculares da política externa espanhola a Malabo”, enquanto Bono “rompeu com a atitude firme que manteve o anterior presidente do Parlamento, Manuel Marín”.

Com esta visita, adianta o “El País”, os parlamentares espanhóis “presentearam o ditador com um desagravo para o qual não teve mérito algum”.

Num encontro no palácio presidencial em Malabo, o Presidente do Parlamento espanhol pediu “avanços no que diz respeito ao direitos humanos na Guiné Equatorial”, mas disse a Obiang que “é muitíssimo mais o que nos une do que o que nos separa”. Referia-se sobretudo à língua, e ao facto de o espanhol se ter tornado num instrumento de trabalho da União Africana, sublinhou o “El País”. A questão dos direitos humanos foi abordada de uma forma “cuidadosamente diplomática”, apesar dos vários casos de tortura e detenções arbitrárias que têm sido denunciados por organizações como a Amnistia Internacional.

Por Isabel Gorjão Santos/publico.pt

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